O sistema Cantareira fechou o ano de 2017 com um pouco menos de água armazenada: 41% de seu volume útil, contra 46% em 2016. A diferença não parece grande, mas sua razão preocupa. Em 2017 entrou menos água no sistema e gastou-se mais, o que resultou em um saldo negativo, que consumiu cerca de 10% do que foi economizado em 2016.
A menor entrada deve-se a um menor volume de chuvas, que foi de 83% da média histórica. Já a maior saída aconteceu porque a SABESP aumentou a vazão de retirada de água do sistema. A retirada voltou aos níveis de 2014, o ano de início da crise hídrica. Apesar de ainda menor que a média histórica, este volume retirado foi suficiente para deixar um saldo negativo em 2017.
Outro sinal preocupante é que a eficiência das bacias hidrográficas do Cantareira caiu de 33% para 29%. A eficiência é a proporção da água de chuva que a bacia drena para os reservatórios, e é calculada na última linha da tabela. Historicamente pouco mais de um terço do volume de chuva torna-se água armazenada. O restante fica retido no solo e na vegetação, ou evapora.
Em 2014 houve uma forte seca: o volume de chuva foi 60% do normal, e a eficiência caiu pela metade. No ano seguinte as chuvas voltaram ao normal, mas a eficiência, não. O sistema sofreu uma transição crítica1. Foi necessário um outro ano de chuvas normais para a transição se reverter. O ano de 2017 foi mais seco e vemos uma queda da eficiência, embora não nos níveis de uma transição.
O que se aprendeu? Uma seca pode fazer a bacia hidrográfica mudar abruptamente para um estado de baixa eficiência. O retorno à normalidade não é imediato ou fácil de prever. A eficiência normal levou dois anos para se recuperar, e a retirada de água precisa ser controlada por ainda mais tempo para devolver o reservatório a níveis seguros.
Média Histórica | 2014 | 2015 | 2016 | 2017 | |
---|---|---|---|---|---|
Volume de chuva | 3571 | 2203 | 3737 | 3505 | 2961 |
Entrada | 1389 | 357 | 712 | 1166 | 847 |
Saída | 1219 | 842 | 493 | 716 | 892 |
Saldo entrada - saída | 170 | -484 | 220 | 449 | -45 |
Eficiência (%) | 39 | 16 | 19 | 33 | 29 |
Fontes:
Médias históricas de vazões de entrada (1930-2013): Dados de Referência Acerca da Outorga do Cantareira, ANA/DAEE (http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sof/Renovacao_Outorga/DDR_Sistema_Cantareira%20-%2012Jun15%20-%20FINAL.pdf)
Vazões de saída (2004-2017), vazões de entrada (2014-2017) e pluviosidade média mensal do últimos 30 anos: SABESP (http://www2.sabesp.com.br/mananciais/)
O projeto Águas Futuras é uma iniciativa de pesquisadores da USP (Paulo Inácio Prado, do Instituto de Biociências) UNESP (Roberto Kraenkel, Instituto de Física Teórica) e UFABC (Renato Coutinho, Centro de Matemática Computação e Cognição) que usa modelos matemáticos para os sistema Cantareira a partir de dados públicos. A página do projeto http://cantareira.github.io é atualizada diariamente com projeções para cinco e trinta dias. Também estão disponíveis na página links para todos os dados e programas utilizados, todos de utilização livre não comercial.
Coutinho RM, Kraenkel RA, Prado PI (2015) Catastrophic Regime Shift in Water Reservoirs and São Paulo Water Supply Crisis. PLoS ONE 10(9): e0138278. http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0138278↩
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